Efeito Sanfona
Dr.Drauzio Varela
21/11/2004
Dr.Drauzio Varela
21/11/2004
O mundo tem um bilhão de pessoas acima do peso. Milhões delas estão, neste momento, começando uma dieta. Milhares vão conseguir emagrecer. Mas só algumas vão permanecer magras por mais de um ano.
Se você vive nesta aflição diante dos ponteiros da balança, atenção: esta é a história da Edeli, mas bem que poderia ser a sua.
"Meu nome é Edeli, eu tenho 50 anos, tenho dois filhos. Eu queria ser aquelas magras que, quando estão com problemas, travam. Mas não, eu sou daquelas gordas que comem quando estão com problemas", brinca Edeli.
Para saber ao certo o quanto uma pessoa está gorda e quando a gordura passa a ser realmente um problema, existe o índice de massa corporal (IMC). O IMC é calculado dividindo-se o peso da pessoa pela sua altura ao quadrado, isto é altura x altura.
"Tenho 1,59m de altura, estou pesando atualmente 82 quilos", diz Edeli.
Um resultado entre 18,5 e 24,9 é considerado normal. De 25 a 29 a pessoa tem sobrepeso, está acima do peso saudável. De 30 a 39 já pode ser considerada obesa. Acima de 40 tem obesidade grave, obesidade grau 3. O IMC da Edeli é 32,44. Ela está obesa.
"Hoje eu acordei muito triste, pela luta que é esse negócio que é a obesidade na minha vida. Eu não tenho um dia de descanso. Se ontem eu comi, hoje eu pago por isso. É uma luta diária de todos os meus irmãos para manter peso. Temos facilidade para engordar", conta ela.
Desde criança ela sofre com o excesso de peso. "Existia uma brincadeira entre as irmãs. Nós éramos três irmãs: eu, a Eliete e a Eloá. E a brincadeira era assim: cobra, jacaré e elefante. Adivinha quem era o elefante? Alguma dúvida?".
É na infância que as células de gordura são formadas. A célula de gordura é uma esfera oleosa e brilhante, tão pequena que são necessárias milhões delas para abrigar as calorias de uma única bala.
Se a criança come muito - e come mal - estas células incham. Elas chegam a ficar seis vezes maiores do que o tamanho original. Quando estão cheias, elas se dividem, duplicando os depósitos gordurosos. Um adulto obeso pode ter até cem bilhões de células de gordura.
As células, cada vez em maior número e maiores também no tamanho, acompanham a pessoa pelo resto da vida. Por isso é tão difícil emagrecer. A pessoa nunca perde as células de gordura que acumulou ao engordar. Elas permanecem no corpo à espreita e, na primeira oportunidade - quer dizer - na primeira vez que você atacar aqueles bolinhos de arroz - vão novamente inchar e se multiplicar.
Guarde bem esta informação. Nós vamos precisar dela daqui a pouco. Agora, vamos voltar à Edeli.
"No meio da dieta, o que te dá mais vontade de comer?", pergunta Drauzio.
"Um prato de macarrão com molho quatro queijos. Nossa Senhora, umas polpetas em cima. É a dieta dos meus sonhos. Com um filé a parmegiana", responde Edeli.
Entre o desejo de ser magra e a realidade da balança, existe a comida. Edeli trabalha no restaurante do irmão e vive cercada de tentações.
"A Edeli com comida é assim. Ela decide que vai fazer dieta, aí faz no almoço e fica beliscando a tarde inteira", conta o irmão dela.
"Qual seu maior problema na vida? É esse?", pergunta Drauzio.
"É. Hoje é. É a aceitação do meu corpo", responde Edeli.
Na busca desenfreada por um corpo magro, Edeli investe em todos os tipos de dieta. "Eu fiz a do Dr. Atkins, eu fiz a de Beverly Hills, eu fiz a de South Beach. Acho que eu já fiz umas 15, 20 dietas. Eu vivo em dieta. Essa semana, eu comecei a fazer a dieta da sopa", conta ela. Isto é vida de "cachorro".
Primeiro dia "Ontem eu me pesei, comecei a dieta com 84,9 quilos. Então assim eu almocei só sopa de legumes, só legumes, não tem um caldinho gostosinho, nada".
Segundo dia "Fui me pesar. São 11h da manhã. E assim, deu um quilo de diferença. Tô com 83,9 quilos. Dois dias de muito sacrifício".
Quarto dia "Não me sinto confortável. E domingo é um dia super difícil, tá mais difícil ainda hoje. Tá muito frio e eu acho que eu tô querendo comida mesmo".
Sexto dia "Comi muito pouco, muito pouco. E, no meio da tarde, eu estava com muita fome, furei a dieta e comi três damascos secos".
Último dia "Tô com uns dois quilos a menos, ou três porque as calças estão largas".
Essas dietas restritivas, com um número insignificante de calorias, funcionam no dia-a-dia ou não?
"Elas funcionam.
"Elas funcionam.
A curto prazo, qualquer dieta funciona. Por exemplo, você pode, eu até brinco, emagrecer com brigadeiro. Mas você só pode comer seis brigadeiros por dia. Isso faz emagrecer a curto prazo. Mas a longo prazo a experiência mostra que não funciona. Porque o sujeito vai acabar recuperando o peso quase que invariavelmente", explica o endocrinologista Alfredo Halpern.
Quem faz regime - qualquer um - sempre emagrece. O problema começa aí. Como manter o peso? Sim, porque ninguém consegue, e nem agüenta, passar a vida tomando só sopa, ou comendo só atum e meia uva. Com muita fome, a pessoa acaba mesmo assaltando a geladeira.
"Eu tava morrendo de fome, aí pedi um prato de espagueti ao sugo com manjericão. Aí, mais tarde eu cheguei em casa, tinha pizza. E aí ela olhou pra mim, eu olhei pra ela, ela olhou pra mim e a gente se entendeu e comi um pedaço de pizza, além de tudo também, né?"
Tem uma constante nessas dietas todas. É que você faz durante um tempo e um dia pára e não consegue manter. "Isso aconteceu com todas elas", revela Edeli.
E aí, a balança é implacável. Aquele ataque à pizza gelada de madrugada é punido com um aumento imediato de peso.
"Ontem eu me pesei e estava com um quilo a mais", revela Edeli. Pronto: todo o sacrifício foi inútil.
"É o músculo, é a gordura, é o metabolismo, é todo o sistema orgânico que vai querer fazer você engordar de novo", avisa Alfredo Halpern.
Lembra da célula de gordura? Quando você faz dieta e diminui o número de calorias nas refeições, as células de gordura não morrem, só encolhem. Elas "murcham".
O cérebro interpreta este "encolhimento" como uma ameaça à integridade do organismo. E o que acontece? O organismo começa a queimar menos energia. O metabolismo fica mais lento. Ou seja, emagrece de faz de conta.
É que o corpo, com medo de perder gordura - você lembra que foi a gordura que garantiu nossa permanência como espécie - passa a trabalhar mais devagar. A gastar menos energia para fazer nossos órgãos funcionarem.
"O teu organismo começa a queimar menos calorias. Uma perda de dez quilos representa 200 calorias a menos que você queima. Para cada dez quilos que você perde o seu corpo começa a gastar menos 200 calorias por dia", exemplifica Halpern.
É uma conspiração do corpo para fazer o peso voltar ao que era antes da dieta. Esse é que é o efeito sanfona. Porque o cérebro tende a manter o maior peso que você já adquiriu. É preciso que ele passe muitos anos numa determinada faixa de peso pra ele se adaptar a esse novo peso.
"Eu uso um número cabalístico de tantos meses quantos os quilos perdidos. Se o indivíduo perdeu 20 quilos, ele vai ter que ter 20 meses de atenção bem rígida, bem forte, pra não ganhar esse peso de novo", comenta o endocrinologista.
"Eu uso um número cabalístico de tantos meses quantos os quilos perdidos. Se o indivíduo perdeu 20 quilos, ele vai ter que ter 20 meses de atenção bem rígida, bem forte, pra não ganhar esse peso de novo", comenta o endocrinologista.
È o que se chama de tempo de redução, e tempo igual de manutenção.
Heider Costa
Consultor do Bem-Estar
Consultor do Bem-Estar
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